FIRA-ME
FIRA-ME
Sentimento que arrepia, que corta a alma e desfacela a personalidade de quem o sente,
Paixão...
Palavra inventada pelo próprio cão, que emudece, cega, cala,
Retira-te os propósitos, os conceitos, os valores,
Calcada em loucura, recheada por dores,
Carrega-te do leito, te enterra em uma vala,
Consome o teor de seu dia, as noites tornam-se vazias,
O telefone que não toca, o peito que arde, torna-te covarde,
Beijos que sangram, olhares que contaminam, carícias que paralisam,
Sou dirigido pela paixão, do deitar ao colocar os pés no chão,
Meu travesseiro testemunha as confidências e incongruências de toda essa alucinação,
Sentimento pueril, fulgáz e passageiro... mas te consome por inteiro,
Vão-se as metas, vão-se pessoas, vão-se famílias,
Por algo que vive pouco mais do que alguns dias,
O corpo se desprende da pele,
O pensamento se extingue,
Paixão...
Volúpia insensata,
Troca ingrata,
Loucura inata,
Berço de sangue,
Princípio de morte,
Faca de corte,
Relógio sem ponteiros,
Espinhos em canteiros,
Emoção que arde,
Sentimento que fere,
Fira-me...
Sérgio Ildefonso Fev/2004