ESQUINAS

ESQUINAS

Vivo, mesmo após estar morto,

Sácio, mesmo após estar faminto,

Desperto, mesmo após inundado de sono,

Andante, após paralítico,

Falante, após se estar emudecido,

Vejo, mesmo após ter sido cego,

Aquecido, após um longo inverno.

Nada pode ser eterno, a não ser nós mesmos,

A maior de todas as dores ainda não chegou,

O mais tenebroso vendaval ainda sequer se formou,

Das feridas o sangue podre ainda não jorrou,

Foi muito pouco cara...tudo o que você passou,

Foram em vão, todas as lágrimas que você chorou,

Olhe e veja: nenhuma cicatriz ficou,

Te prepara e te arma, porque a guerra ainda não começou.

Ama, mas ama com toda a tua força,

O amor será o teu ardil,

Teu amor será teu escudeiro,

Quando tornarem-te um guerreiro,

Enquanto esperas na caserna a grande luta,

Ama a teu irmão, e ama ao teu amor,

Deleita-te na memória dos parcos momentos,

E aproveita enquanto sopra em ti vida, esse majestoso sentimento,

Beija-lhe os olhos,

Beija-lhe os seios,

Beija-lhe a boca,

Torna-a louca,

Resfrega-te em teu corpo, como um soldado junto ao solo,

Deita em teu colo,

Respira em tua pele,

Sinta o cheiro da mulher que ama, e guarde-o para ti,

Amanhã poderá sequer existir,

Nossas vidas são esquinas,

Não sabemos o que nos espera ao dobra-las,

Se a sorte ou a própria morte,

Ama hoje, como se não houvesse um amanhã.

Sérgio Ildefonso Jul/2003

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