AMAR-TE
“AMAR-TE”
Somar, tomar do remanso,
A postura que me corta
Clara e loquaz,
Alva e lânguida, feito uma cantiga de roda,
Onde gotas se escoram tangentes
Em gotículas que se espelham em olhos de gente
Em que vendem ao repor das vezes
As lágrimas que se desviam descrentes
Dos seus olhos em meus olhos de agora
Que não se ignoram e se acordam
E se estendem ao degustar um repente de luz
Em estranhos alvos jus
Em que se produz o descanso
Estando, remando o espanto,
Testado e testando se repreende
E se estende em seu presente
Que se reduz em manto que pus
Em estranhos braços em forma de cruz
Que se pendem e que se produz
Os dois lados de uma mesma coragem
De alpendre e de desprende
De uma mesma saudade
Que se sente
Ancoragem que prende a vida à margem
Colagem para uma seca roupagem
Passagem e sentinela de uma fase
Em que se peca, que age,
Que se vela ao fim
De uma mesma mensagem, vontade,
Ruídos em forma de sutileza
O córrego diz ao passar pelas pedras
“Te amo e te tenho sempre passado e nunca ao meu lado
Te recompenso quando te toco com meu ruído de vento
Te desejo mais que a gruta que me abriga
Te preciso mais do que a noite que me avizinha
E me toma por belo ao refletir-me a um lado da lua
Que vejo distante, nua e desamparada,
Solitária em seu presente
Ditada sem o amanhã
Sem o calor de um sol em vôo quente
Em que beija a face crua
Desprovida do que mais me ressente
Solitária novamente
Separada, indagada se reporta:
‘Abri-te a porta para um conto alvo
Em que se foi o vivente
Deixaste-me ao abrigo do céu mais dividido
Para uma fase de agrura e desprendimento
Sou cheia e às vezes faceira
Sou vaga e às vezes brejeira
Ligeira e nova como a culpa
Que inala por meus poros
Ouço o coro de luz
E coro em tom que induz,
Reflito por sua pele o amarelo
Quando deitada sobre ti apelo
Minha pele não é de canela,
Mas com o branco me torno aquela
Que por ti se inflama
Que ama seu lado ausente
Sou lua minguando e às vezes, crescente.
Meu amor partiu e meu outro lado
Não se conteve
Não mais se viu,
Mas meu caminho aqui me prende
Sempre a espera do que me teve
Daquele veneno
Incapaz,
Que não mais me vence’
Vil é o tempo que me torna água
Por mais que presente
Não posso ficar
Corro de todo lugar
Não sou de mim porque não sou de ninguém
Toco e ao ser tocado me recolho
Àquela que sempre úmido me prende
Que anula o meu desprende
Que sei que irá me amar, eternamente”
O amor antagônico
Cônico não é meretriz
Cômico ri de si mesmo
Temo por seu desespero
Mostra-se ausente quando presente
Ausente torna-se querente de tudo à qual se desprende
Repreende todos, a qual não entende,
Defende a todos aqueles ungidos unidos em culpa
Por isso enquanto minha
Consulta abrasiva
De todos os jeitos
Aí que luta!
Vou a ti
De corpo inteiro
Dar-te o dorso
Em presságio,
Adágio
Dos galhos que encontram a fruta
Turra em seu desrespeito
Que a anula desnuda
Nula aos propósitos em respeito
Na curva dos traços
Que não se priva
A diva que me traz de consenso
Imenso como minha busca pela vida
Em que só te vejo
Como muitas
De uma só
Em que me tenho
Vivo cedo
Porque só a ti
Pertenço
Por onde só revejo
Em meio
Ao meu meio
Em que tento
E não enfrento
O enredo
Do desespero
De perder-te de ti
O que entendo
Porque só te amo.