Cama Vazia
Ainda tem o teu cheiro no travesseiro, no quarto,
nas tuas roupas no armário, nas cortinas paradas
que adornam a janela sem horizontes.
O porta-retratos quebrou! - Tua foto migrou do móvel,
que imóvel, viu tua foto se espatifar ao chão.
O som portátil parou! Nenhuma canção por meu ouvido adentrou.
A toalha estendida no velho cabideiro, nenhuma emoção notou.
Teu cheiro nela permanece e me entorpece de amor.
Ela aguarda ansiosa por teu corpo secar, gota a gota,
uma a uma sugar... Se deliciar em te cobrir, te tocar...
Embrulhar-te como um presente para que eu possa descortinar.
Os lençóis ainda amassados aguardam o teu rolar,
envolver-me, manter-me sob ti.
Esperam nossos corpos ardentes de um suor intenso e profano, - secar!
A coberta descobre o vazio profundo que deixastes no porão do meu coração.
A taça do último champanhe, ainda tem a meia lua da tua boca na borda,
que contorna a frieza da taça e se embaça no tempo esquecida do teu gosto.
A meia luz do abajur quase apagado espera, ainda, refletir tua silhueta,
pelas paredes do quarto, pelo piso do chão.
Nossos sonhos aprisionados nas paredes esperam tua volta para enfim,
poderem ser libertados do cativeiro das lembranças, e retornarem a ter,
a liberdade e a esperança de novamente serem sonhos, arpejos de amor!
Teus chinelos esperam teus pés novamente calçar, e passearem de novo pela casa,
se libertarem do chão fio e aquecerem teu caminhar.
Tudo igual... Tudo ali, do jeito que deixastes,
até meu coração que se tornou uma imensa cama vazia, sem sonhos, sem vida,
aturdido pela repetição em orações, sem entender, que amor quando se acaba,
não tem como voltar a pulsar. Eu te espero mesmo assim, apenas do amor que sinto,
do frio que me consome, e do vazio de olhar uma cama,
que sem dono não tem mais um amor a abrigar.
Edna Fialho