PAIXÃO MATINAL – UMA OUSADIA DE POETA.

 

No café da manhã

sua voz embaçada de sono

meu pescoço bramia.

Louças na pia,

Lá ia ele, meio sem tato,

remover dos pratos as sobras

dos desejos saciados...

Pertinho dele

Enxugava talheres e louças

E com minha voz rouca

Solfejava a canção do frio:

eu sendo mulher viçosa e

ele um macho vadio;

eu salgada e ele insosso

fui pra ele janta

pra mim ele foi almoço.

No café da manhã,

Manha a claridade do dia

Em nosso colo quieta...

Seus cabelos embaralhados

Minhas mãos perdidas em cada mecha

Perco-me na insensatez da fé:

eu que sempre fui homem

quis-me a poesia me ver mulher!

Se me queres janta

Levanta-te e me prepara!

Serve-me em diversos pratos

como se macho eu não fosse...

Nem acre nem doce

Salpique o céu as estrelas

no banquete do imaginário sonho e

depois pare pra vê-las...