O tempo passa rápido quando a gente não quer que ele passe. Outras vezes ele parece que para e nada acontece. A voz de um homem falando em um megafone solicitava que eu permitisse a presença de um representante dos direitos poéticos dentro da casa para que pudesse avaliar a saúde deles. Não concordei na hora , mas insistiram tanto que acabei permitindo a entrada do representante. Para meu espanto o representante era uma mulher. E por que uma mulher? Nada contra e nem a favor. É que era estranho, incomum é a palavra certa. Será que eles acham que vou me derreter todo ante a presença de uma mulher? Mas que idiotas.
Ela parou na porta e ficou analisando a situação. Eu para mostrar que dominava a situação, mantinha alguns poemas perto da chama acesa do fogão, era só abrir a mão e eles logo virariam cinzas. É claro que não tinha intenção nenhuma de acabar com os poemas, era só um blefe para assustar a mulher. Ela deus dois passos na minha direção, parou e soltou os cabelos, meneou a cabeça de um lado a outro provocantemente. Achei aquilo engraçado, só faltava ela ficar nua e dizer que estava pronta para o uso. Depois que ela soltou os cabelos, tirou os óculos escuros e simplesmente sorriu para mim. Isto mesmo. Ela estava sorrindo para mim maliciosamente. Se a intenção era me desconcentrar, ela estava conseguindo, tanto que quase deixei cair os poemas nas chamas azuis do fogão. Ela gritou assustada;_ Não! Os meus poemas não!
Como assim, meus poemas. A pergunta morreu antes de cais no chão. A resposta era tão óbvia que quase não acreditei na obviedade da verdade escancarada na minha frente. Ela era a mulher dos meus sonhos.
Adão Jorge dos Santos
Enviado por Adão Jorge dos Santos em 10/10/2006
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