O CÉU DESPENCOU

Já senti o céu cair na minha cabeça,
Fazer dos meus sonhos, escombros,
Da minha vida, papel na tempestade,
Do meu amor próprio, sarjeta fétida,
Fazer de mim apenas retalho humano.

Já vi a noite como um infinito todo negro,
O dia seguinte apenas uma fatídica utopia,
Senti a morte como única solução palpável,
Amarguei e engoli o fel da desesperança,
Senti todos os amores se esvaírem em vento.

Hoje até zombo das minhas dores de outrora,
Já engoli toda agonia da tristeza da tua perda,
Mas foram dias e noites de pranto e solidão,
De planos e estratégias muito além do macabro,
Aplacadas pela ilusão do teu arrependimento.

Hoje refeito do susto e do medo do porvir,
Redescobri que vivo apesar do teu desamor,
Embora as madrugadas ainda me maltratem,
Nos delírios em que sinto teu corpo ao lado,
Mas já espero o dia amanhecer sem chorar.

Já lembro você sem o amargo da mágoa,
Já olho o espelho e me reconheço de novo,
Quase pronto para te apagar das lembranças,
Até que uma música qualquer a traga de volta,
E o céu ameace despencar em novos desvarios.


Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 07/11/2010
Código do texto: T2601647
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