Fadada a esperar
Sou dada a esperança,
Então, no próximo satélite,
Da galáxia mais próxima
(quem sabe ali na esquina)
Tu vás chegar.
Vem,
Vem sim,
Quiçá nas asas de um passarinho,
Na fluência da vida,
Que bate, que pulsa, pulsa...
No ímpeto do meu imaginar,
Sei, tu virás.
De um desenho infantil
É soberano em meu desejo,
Feito de cera e de giz, tu chegas,
Sem cavalo branco,
Toma-me de súbito, no calor de um beijo.
Ma se fico mais alta,
Suposto crescer,
Ainda assim eu te vejo chegando,
Saído das páginas de um romance errante,
Ao meu encontro em um farol perdido,
Entre mar e maresia, tu chegas,
Agasalha-me da chuva,
E no verso do papel amassado de cigarro,
Faz-me uma pequena poesia...
Daí sou tez levemente mudada,
No olhar o brilho persiste, foco de luz.
Entre versos, solitários e ensimesmados,
Eis que surges, roubando a cena,
Pontuando um tempo de maturidade,
E te fazes desenho, imagem e verdade,
Chegas, sem flores nas mãos,
Sem lua, sem mar, sem navegação,
Mas trazes o tal irrefutável amar,
E basta que eu vislumbre o teu chegar,
Para saber que és tu,
És tu,
O antigo-novo-maduro amor a chegar.
# também inspirado na poesia de Hilda Hilst, “Cantares do Sem Nome e de Partidas”.