João e Maria
A idéia de um amor perfeito, humanamente inapreensível, socialmente letal;
Que de ternura seja completo, que seja em um manto de doçura envolvido,
É o que alimenta o pensar de um poeta sensível, um errante peregrino perdido,
Afogado entre essas gentes insípidas, emparedado em um mundo cretino e sem sal.
Antinomias inaceitáveis, dirão os profetas do Caos: incapazes de entender uma criança no colo da mãe, mil pássaros em interminável cantar.
Nós dois, eternos amantes dormindo abraçados, momentos harmônicos numa noite fugidia, a apreciar a chuva na tarde a cair na vidraça.
Vislumbro o Cosmos no brilho de teus olhos retido; beijos de sabor de amarula promete teu riso pleno de graça.
Amor! Desmesurado este amor que ora vivo; amor que é um resgate de um sonhar recorrente, o fluir de um rio para o mar.
Quando desta Terra eu partir, quando perto de ti não mais estiver, carregarei comigo teu abraço noturno, teu eterno pedido de companhia.
Lembrarei de nosso rir no almoço, teu cúmplice olhar no café da manhã, o sorvete na boca trocado e o jantar que ficou prá depois.
Nessa última viagem tristeza não levarei: viver contigo foi meu prêmio maior, (Lá, no Olimpo, eu direi - Aqui fui Uno contigo) usufruímos um Nirvana em nós dois;
Construímos uma Pasárgada só nossa, uma cidadela por Morfeu defendida, uma ilha sitiada de Amor – Diz-me que sou João, o teu Rei: para ti, exclamarei que és tudo que tenho e quero - tu és minha eterna Maria.
Quando surpreendemos, ao nos encontrarmos numa noite sem sono, o corpo da mulher que amamos abraçado ao nosso, pernas e braços misturados, a respirar com a tranqüilidade de uma criança, um oceano de ternura nos invade o peito, nos fazendo entender que existe amor perfeito, também, aqui neste nosso planeta tão cheio de contrastes. Este momento sublime, este quadro de irrepreensível harmonia, leva-me a refletir que imperfeitos somos nós, incapazes que somos de experienciar a perfeição contida em nossas vivências mais singelas.
Cidade dos Sonhos, meados da Primavera, tarde do último Sábado de Outubro de 2010
João Bosco