E O MAR SORRIU
Acalentado durante anos resolvi voltar.
Lembranças gostosas como o sabor do mél,
Faziam-me refém de sonhos que guardava
E queria reviver, mesmo que por instantes,
Pois foram divinos e meu coração guardou,
Até que um dia me cobrou para então voltar.
Tomei a estrada um pouco transformada,
Pois o progresso deu-lhe novas figurações,
Mas a natureza parecendo ainda intocada,
Mostrou-se graciosa como me reconhecendo,
E dos picos dos morros nuvens me saudavam,
Até que avistei a cachoeira um pouco diminuida.
Queixou-se do homem que abateu muitas árvores,
E sua nascente está sofrendo com o sól ardente,
Pois a mata ciliar que lhe protegia na sombra generosa,
Foi danificada por moto-serras de insaciável apetite,
Modificando o eco-sistema até então intocável,
E com isso seu volume de água muito diminuiu.
Mesmo assim prossegui olhando todas as belezas,
Flores que apontavam aqui e ali no verde bonito,
Pois a primavera ainda deixou muitas cores douradas,
E o perfume inebriou-me com tantas suavidades,
Que foram se intensificando no decorrer do percurso,
Até que cheguei ao destino onde ansioso aportei.
Uma onda pequena foi aos poucos se aproximando,
Parecendo uma criança sapéca querendo brincar,
E envolveu meus pés com seus deliciosos carinhos,
Até que mais ondinhas vieram em pequenas marólas,
E meu espírito criança despertou num impulso gostoso,
Pois um reviver saudoso estava acontecendo ali.
Uma lufada de vento acariciou com ternura meu rosto,
E dirigiu meu olhar para o mar de um azul tão lindo,
Que contemplei extasiado pois por anos me ausentei,
Até que vi uma onda toda branca que se aproximou,
Me abraçando toda saudosa pois logo me reconheceu,
E envolventes foram os momentos que com ela vivi.
Num sussuro como se querendo as saudades buscar,
Reviveu comigo muitas cenas de amor ali vividas,
Pois num extasiante cenário que só me deslumbrava,
Tive momentos de generosas trocas de carinhos,
E as saudades fizeram com que lágrimas eu soltasse,
E o mar bonito se afastou sereno e para mim sorriu.
28-10-2010