ALVO
Essa pele tão clara
Tão macia de veludo
Na verdade é meu alvo
Homem trigueiro
O tom de tua pele
De nada me impede
Desvia-me sem cuidado
Mas eu te acerto
A cor da tua tez
Onde perdi a sensatez
Ontem hoje sempre
Gosto desse pêssego
Das tatuagens
No branco leitoso de tua derme
Traz de súbito à lembrança
De tudo que vivi
Um estouro de pujança
Deslizo as minhas mãos
Por entre os músculos
Venero o teu suor
Veneno que me enfeitiça
Tua face tão lisa
Como a fruta de frescor
Logo a mim queima de ardor
Olhos claros no semblante
Traços simples e belos
Miram tua mesa, tua sala
Urdem prender-me num estalo
Secretária, amante, escrava
De alforrias ou condão
No teu fogo eu me perdi
No meu vício de tuas palavras
Nessas vozes nesses muros
Nos teus poemas ‘entrelinhas’.