A Dois

Sinto-me um estranho

Do seio que fiz e me alimento

Estranho ao dar colo a quem depende de mim

Entreolhares de expectativa mutua

Suspense sobre fazer ou não o que ambos querem

Há sofrimentos duros de tocar

Contemplo a pele branca

A pele do pecado que eu fiz

O cabelo que foi para mim

Entre o meu e o pra mim perdem-se eu e ela

Palavras acanhadas a distância deles

Este vidro trincado que não ousam quebrar

Querendo ser vistos

Não ousam ver o outro

Não vai mais pedir colo

Mas podemos oferecer-nos

Ou pelo menos o que queremos