Ecos dos dias que hão-de Vir…
Cai uma chuva fina sobre nós
Uma chuva digital
Pois a outra
Por ser demasiado ácida
Foi substituída
Tal como todo o resto
Que nos dias antigos
Era considerado normal…
O relógio avança
Mas deixámos de ligar ao tempo
Há noite ao dia
Misturamos as horas
Trocamos os sonos
E nunca
Jamais
No sentimos abandonados
Pois a companhia
Está à distância
De um clique de um dedo
E por isso
Estás do outro lado de tudo
Mas estás também a meu lado…
Passa um objecto voador
Em frente do meu quarto
Que pode ir para qualquer destino
Assim como eu posso
Embora de tal eu queira abdicar
Pois é este espaço
Originário dos tempos que se esgotaram
O meu berço
O meu ninho
O meu refúgio
De um futuro
No qual eu vivo
Mas do qual
Realmente não preciso…
Toca a música de um piano
A nossa música
Concebida por um computador
Tal como a nossa génese
Porque a criação natural
Humana
Foi abolida
Porque se descobriu
Que a humanidade antiga, não é mais do que uma ferida…
Olhando então os teus olhos
Concebidos num qualquer laboratório
Olhando-te a ti
Com uma invulgar ternura
Tendo vontade de te perguntar pelos teus pais
De evocar as tuas recordações
Mas não o faço
Nunca o irei fazer
Pela razão
Sintetizada neste tempo
De ser normal
Que quem te deu origem
Não o fez
Da forma natural
Fê-lo através da ciência
Transformando
Com esse pequeno gesto
O amor
O nascer
O sentir
Em algo demasiado banal…