Ecos dos dias que hão-de Vir…

Cai uma chuva fina sobre nós

Uma chuva digital

Pois a outra

Por ser demasiado ácida

Foi substituída

Tal como todo o resto

Que nos dias antigos

Era considerado normal…

O relógio avança

Mas deixámos de ligar ao tempo

Há noite ao dia

Misturamos as horas

Trocamos os sonos

E nunca

Jamais

No sentimos abandonados

Pois a companhia

Está à distância

De um clique de um dedo

E por isso

Estás do outro lado de tudo

Mas estás também a meu lado…

Passa um objecto voador

Em frente do meu quarto

Que pode ir para qualquer destino

Assim como eu posso

Embora de tal eu queira abdicar

Pois é este espaço

Originário dos tempos que se esgotaram

O meu berço

O meu ninho

O meu refúgio

De um futuro

No qual eu vivo

Mas do qual

Realmente não preciso…

Toca a música de um piano

A nossa música

Concebida por um computador

Tal como a nossa génese

Porque a criação natural

Humana

Foi abolida

Porque se descobriu

Que a humanidade antiga, não é mais do que uma ferida…

Olhando então os teus olhos

Concebidos num qualquer laboratório

Olhando-te a ti

Com uma invulgar ternura

Tendo vontade de te perguntar pelos teus pais

De evocar as tuas recordações

Mas não o faço

Nunca o irei fazer

Pela razão

Sintetizada neste tempo

De ser normal

Que quem te deu origem

Não o fez

Da forma natural

Fê-lo através da ciência

Transformando

Com esse pequeno gesto

O amor

O nascer

O sentir

Em algo demasiado banal…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 28/10/2010
Código do texto: T2583646
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.