TANGOLOMANGO
Tinha eu doze jeitos de amar, faziam feliz
Meu coração de aço, pluma, esponja, bronze;
Deu-me um apressado tangolomango e só sobrou onze...
Tinha eu onze formas de apreciar minha coleção de cordéis...
Foram-se esmaecendo em dias de sol e chuva;
Passou um inesperado tangolomango, sobrou só dez...
Tinha eu dez modos de mostrar como uma montanha se remove...
Nenhum deles se mostrou o melhor em hora nenhuma;
Um desajeitado tangolomango veio e só sobrou nove...
Tinha eu nove preceitos chineses para seguir sem ser afoito...
Seguia-os sereno e calmo e em meditação profunda;
Um surpreso tangolomango passou e deixou-me só com oito...
Tinha eu oito dizeres escavados na porta de ébano à canivete...
Símbolos e enigmas indecifráveis sem a lente da pura alma;
Um vaporoso tangolomango sobreveio e a mim só sobrou sete...
Tinha eu sete ditados em forma de escultura feitos de uma só vez...
Pensares e sonhares cabiam neles para degustação da alma;
Um incontornável tangolomango levou um, sobrou-me seis...
Tinha eu seis poemas escritos em folhas amassadas de zinco...
De leitura torta e indireta, enferrujaram em águas de março;
Um apossado tangolomango comeu um, restou-me cinco...
Tinha eu cinco palavras cálidas e porosas feitas de alabastro...
De fácil toque e sensitiva emoção em suspensão de sonho;
Tangolomango voador em breve voo deixou-me só com quatro...
Tinha eu quatro espécies de pesadelos que vinham de uma só vez...
De suar de arrepiar de amuar de arregalar de excitar de chorar;
Voraz tangolomango de asas negras roubou-me um, deixou-me três...
Tinha eu três sacos de feijão e apenas dois pequenos de arroz...
No celeiro guardados para estações de seca e sol e nudez de campo;
Um magro tangolomango passou por aqui e deixou-me só dois...
Tinha eu dois livros na biblioteca, que falavam como criar atum...
Com desenhos à naquim e alguns eram aquarelas maravilhosas;
Um tangolomango pescador, de ar vivo, um comeu e deixou-me um..
Tinha eu um diário sobre minha vida, não faltando uma palavra...
De cabo à rabo, de A a Z, sem faltar um acontecimento siquer;
Veio o maior tangolomango, levou-o, fugindo, deixou-me sem nada.