ESCÔIAS

Para melhor compreensão deste poema, leia ANTES o poema SPERANÇA. Para isso, copie e cole em seu navegador o seguinte link:

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/2573472

__________________________________________

ESCÔIAS

J.B.Xavier

Certa vez, viu, minha criança,

Tarvez tu vai te alembrá,

Eu te falei desperança

Porque tu tava a chorá...

Pois agora tô de vorta,

Aprendi metrificá.

Me alembro do que te disse:

Quesperança é uma topada,

Coisa besta, uma bobice,

Mais é do tipo marvada

Que fais sofrê, fais pená.

Mais esqueci de dizê

Que só topa se escoiê

Poressa pedra passá.

Mas tu tem otras escôia,

Tu tamém pode arredá,

E dá vórta pela pedra.

E tu vai podê sorrir

Porque tu vai evitá

Essa topada sentir.

Tamém falei da cocêra

Que vem lá do coração

De quem sente uma sardade...

A sardade fais sofrê,

Mais tu sofre de verdade

Se a sardade tu escoiê.

Mas tu tem otras escôia,

Prá sardade tu espantá.

É bem simpres, na verdade,

Pra deixá de tê sardade,

E só pará de coçá...

Tamém falei daestação,

Que a sardade é como um trem.

E que tu vê a fumaça,

Mais esse trem nunca vem!

Nunca vem porque tu qué

Que tu seja o fim da linha.

Tu que escoieu esperá

Por quem te disse que vinha,

Mas tu tem otras escôia.

Se a sardade fosse minha,

Eu embarcava num trem

Questivesse de partida.

Ia curtir as paisage,

Me divertir nas viage

E sorrir prá minha vida!

Eu me alembro que falei

De um beijaflô a vuá.

Falei da farta de um dente

E se tu pudé lembrá,

Eu te falei da cebola

Que tu chora sem cortá!

Se tu escoieu passarinho,

Se escoieu cortá cebola

Ah, minha pobre criança,

Tua cabeça é tão tola!

Mas tu tem otras escôia,

É só não querê vuá,

Feito toda a passarada.

Fica lá no teu cantinho,

E mesmo sem percebê

Lá tu vai tá acompanhada...

Eu falei daescadaria

Que tem lá na rodoviária,

Falei de carta e de fone,

E até de computadô.

Falei que esse tar de amô

Custuma deixá na mão.

Quem só espera porele,

As veis só espera em vão.

Toda sardade é matrêra

E às veis leva a vida intêra

Fazendo a gente sofrê,

E se tu escóie errado

Pode acabá sem vivê.

Mas tu tem é que alembrá

Que nóis não sêmo uma rôia

Que tapa o litro de pinga!

Que quando cai no riachão

A água faiz dela o que qué.

Todos nóis temo ôtra escôia

Só é infeliz quem quizé!

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 25/10/2010
Código do texto: T2577348
Classificação de conteúdo: seguro