O Amor Da Alma Antiga
Na rua dela tem casas
Onde moram anjos sem asas
Tem um céu de medo
Onde canta passarinhos logo cedo
Tem um riozinho fenomenal
Que se afoga em seu risinho informal
Nas árvores de lá dá bombons
Que quando ela morde se derrete em sons
Tem uma madrugada que chora
E estrelas que caem como amora
Os casais não se conhecem
Porque o tempo passa e os padecem
E na longa rua inicial que corre
Minha extensão em sombra deita e morre
Ela abre o portão e como o mar em porto
Acha boiando no umbral da guia meu corpo
E quando se dá conta em pranto
Leva as mãos a face e sente tanto
Porque foi nos olhos daquele olhar
Que me enterrei nela em água por tanto amar
E quando em fragmentos me corro-na em face a partir
É porque o amor precisa sair
E de dentro para fora ser partido
Escoar em te amos e ir embora até ser esquecido
***
Minha boca padece na tua vogal inicial - G
Trazes a partir da memória um gesto de acalanto
Irradias dos teus passos o gosto simples da saudade
E miseravelmente partes... Mas das partes sempre me resta algo
E à amalgamar tua carne em sobra ao peito
És minha carne também - E há tanto, tanto, tanto medo...
Mas o guardo no arcano mais profundo da alma
E a cicatriz do tempo se encarrega de selar
O que um dia irei remeter ao seu endereço.
Mas que seja em uma data de primavera
Para que desabroches e em um cântaro
Cresças e que teu sândalo volte a reviver
O perfume das cores - Lilás, azul, branco, cinza...
Teu rosto lentamente se emoldurará no espelho da minha vista
E qualquer olhar de lado lhe fara presente
- Mas não mente que tragicamente o amor sente...
E mesmo agora esquecida - Te lembro...
Passos longos ao piso que se fez chão para que te sintas
Piso que sou eu, teu chão.
E todo o esquecimento é justo para ser lembrado
Para ser relembrado e guardado é necessário esquecer.
Mas ficarei aqui, acima de todas as coisas da vida;
- Do ar, da água, da terra... E deixarei o fogo abafado por dentro
Para que aqueça meu amor, eterno e de várias reencarnações
Para que te ame quando não estás presente
E quando vens mansamente ao meu encontro discreto, mentalmente.
Deixarei o fogo que sabes quem sabe esvaesse um dia
Mas até lá serás sempre o passado, presente e futuro
De um amor que aguarda, cresce e mesmo quando se apaga
Volta a nascer em vida para que te sinta por mais longos anos
Em uma alma já antiga...