A RECONSTRUÇÃO DO AMOR

O vento corrói as rochas
e constrói estranhas esculturas.
As águas erodem o chão
e, à força, forjam barrancos.
Os raios atingem árvores
e derrubam gigantes de folhas.

A natureza não é estanque:
tudo se movimenta,
tudo se transforma,
ganha novos contornos.
Por que meu amor por ti
seria antinatural?

Para nós, o amor é natural
e surgiu em um instante mágico,
mas de uma mágica comum
a tantos outros casais.
Neste segundo, olhares se cruzam
na magia de se reconhecer.
Outros homens e mulheres
sentem queimar no peito
o fogo pleno e purificador
de uma repentina paixão.

Nós somos naturais
e nossas peles se tocam,
nossas almas se preenchem,
e nosso amor existe.

Mas há um mundo lá fora,
há coisas atraentes,
há outras surpresas,
muito a se reconhecer.

E, às vezes, nos esquecemos
das juras de amor eterno,
da certeza de saber no outro
a metade perdida no princípio.
Esquecemos que dói
viver distantes um do outro
e nos iludimos
com as luzes do mundo.
De repente, o fogo arrefece
e passamos a ser sem o outro.

Há amor que não resiste,
planta não cultivada,
e o que era sonho se torna
reflexo de um naufrágio.

E covardemente o casal
se torna um e outro
sob o mesmo teto,
semeando guerra no chão do amor.

Às vezes, são os dois.
Às vezes, um só desiste
e leva a pique
a jangada para a travessia,
apaga as luzes
de uma sala imensa,
entrega à morte
toda a fonte de vida.
Covardemente,infantilmente,
o amor se perde.

Mas o que poucos sabem,
minha amada serena,
é que o amor é frágil
e precisa todos os dias
de uma nova demão.
Deve recomeçar a cada momento,
em todas as ocasiões,
ser sempre surpresa.
Do contrário,
ele fenece, esmaece, cai.

Não podemos permitir
que o nosso descaso
venha triunfar
sobre nossas promessas.

Eu quero,
e sei que tu queres,
viver a plena beleza
deste amor que nos uniu.