A SENTENÇA
Um tribunal se formou
Na jurisprudência do destino
Na cadeira dos réus o amor.
Crime: loucura e desatino
A razão se põe de pé e acusa:
“São incontroláveis seus atos
Usando as armas da emoção
Violou a lei, quebrou pactos,
Queimou princípios e regras,
Invadiu e se apossou da alheia
Terras do coração e pensamento,
E sentimentos proibidos semeia
Que seja condenado ao desterro
Lançado no cárcere da indiferença
Sob algemas da tristeza e solidão
Seja este o juízo, seja esta a sentença”.
Sem ver ali quem o defendesse
Amor a condenação pressentia
Mas alguém o tribunal adentrava
Uma voz mansa e calma se ouvia:
“Bem sabeis que aquelas terras
A mim por natureza pertence
Mas são terras mui misteriosas
Ninguém as domina ou conhece
Viajo muito e por distancias
Que só eu sei, imagino e sinto
Minhas terras deixo aos cuidados
De intricada rede e labirinto
Quem se aventura se arrisca
Perder-se ou conquistar sonho seu
Livres, portanto, são minhas terras
Quem as conquista é herói, não réu”.
Disse isso o coração à vida
Reverenda juíza do destino
Entrou em sua carruagem
E seguiu viagem, sem atino.