ESPECTROS
Respiro o ar frio da noite,
E aguço os meus sentidos.
Ouço gritos de aflição
Mas nada vejo na escuridão.
Um sussurro congela minha alma
E o tempo parece parar.
Ele chega numa nuvem negra,
Emite sons que ecoam no ar.
É o Medo que se aproxima,
O espectro que desanima
O mais ínfimo desejo de voar.
O segundo vem em seguida
Como personagem de uma ária sombria
Ansioso por uma peça atuar.
Num ato de extremo sarcasmo
Enche de angústia a ópera
E resplandece ao encenar.
Seus acordes são suaves
E seu timbre conserva-se grave,
Com tons menores traz melancolia
Como um contralto em doce melodia.
Seu drama enche de lágrimas
Os sorrisos de quem o assiste;
É a Saudade o segundo espectro
Que vem sem avisar.
Seu palco é o coração
Mesmo de quem não quer deixar.
As luzes todas se apagam,
Apenas um foco aguarda,
A música é uma sinfonia.
Seus passos deixam estáticos
Até quem não espera sua vinda.
Sua presença cênica é perfeita
E o seu ato não se finda.
Pra sempre estão abertas as cortinas
Do palco do tempo, Teatro da Vida.
É este o mais belo dos três
E basta chegar uma vez
Pra não mais deixar de atuar.
É o Amor, perfeito espectro,
Que enche o Teatro dos Sonhos
Com sua harmonia ao cantar.