NEGRA NOITE (COLETÂNEA "EU, NATURALMENTE")
A noite não é mais uma criança:
É mulher feita, esguia, misteriosa,
Mulher mulata que se aproxima silenciosa
Com seu vestido negro, espalhando calada
O tecido de fazenda perfumada
Sobre toda criatura existente.
Seus olhos escuros e cintilantes
Têm um brilho fascinante
Que encanta o viajante
E o saudoso amante.
A lua descansa em seu colo protetor
Como um medalhão de esplendor
Enchendo seu corpo de luz.
Seus cabelos escorregam por seus ombros
Como negras cascatas em vales nus.
Suas saias, cheias de babados, espalhadas,
Com gotas de diamantes adornadas,
Cobrindo a terra de brilhantes relicários
E apaixonando os marinheiros solitários.
- Ó noite, negra noite que me envolve!
Leva-me contigo quando te retirardes!
Não me deixes ver o sol te expulsar
Clareando teu magnânimo reinar!
Ó noite, negra noite que me enlaça!
Com teus frescos braços me abraça
Pra que eu não veja o sol raiar!