Quem dera os teus lábios noviços
Rejuvenescessem-me os anos morridos!
Quem dera cessar meu choro
Ao tragar o néctar em teus beijos.
Ah! Se pudesse arder-me
Em teus seios em brasa!
E no ímpeto da minha loucura
Ser forjado ao teu ponto,
Quisera em teu colo de fada...
Recostar meu rosto cadavérico!
Sentir o calor do teu corpo
Na fúnebre geleira da minha alma,
E então dissolver-me num cálice sombrio...
E pelas frestas do teu sorriso
Penetrar as entranhas do teu ser imaculado!
Uma vez no avesso da tua existência
Crestar-me ao sol do teu paraíso...
Contar as estrelas em teu universo
E vagar no rarefeito dos teus espaços vazios.
E após gozar o egoísmo de que sou feito,
Voltar de ti numa explosão de prazer...
Navegar nas lágrimas dos teus olhos,
Respirar teus sussurros e gemidos...
Embrenhar-me nas trevas das tuas madeixas
E então roubar-lhe um pouco do brilho de lua.
Quem sabe a morte me chegue primeiro,
Ou talvez a poesia me tome por versos...
E me tenha por flecha,
Por cupido vagabundo,
Já que sou feito de paixão
Da luxúria de mil amores!