ROSA
O jardim da vida estava multicolorido
O viço das folhas mais e mais protetor
E uma rosa via seu lindo caule fortalecido
Enquanto sonhava com seu grande e futuro amor!
O viajante, parando por ali, contempla a rosa
Esta o olha e seus olhares se cruzam fervorosos
Treme, na terra plantada, a flor meiga e amorosa
Um segundo deste olhar são mil séculos esperançosos!!
Trocam duas ou três palavras e o amor
Invade a alma deste ser que fita a rosa
E esta sente em cada pétala grande fervor
Enquanto trocam, além do olhar, um pouco de prosa!
- Rosa, como és linda, como és formosa!
Que pele aveludada, que visão cheia de lume!
Que ramo mais sutil, que pose mais charmosa,
Que presença linda; e tão gostoso perfume!
Deixe que a tome em meu colo fecundo
Vem comigo por esses caminhos, por essa vida
Vem desbravar estes caminhos, este mundo
Vem rosa amada, vem rosa linda, vem rosa querida!
Mostrarei tudo que não sabes ainda,
Envolver-te-ei com meu saber e com minha estima
E enquanto nesta terra minha vida não for finda
Encoberta estarás pelo manto que nos encima!
Vem comigo, te segurarei com ternura
Não deixarei que minha mão pesada
Maltrate teu ser tão cheio de candura,
E te faça algum dia rosa despetalada!
Vem comigo que terá amor sempre redobrado
Terás proteção contra a chuva e o vento
Serei tua árvore, tua seiva de vigor renovado
E não deixarei que soltes um só lamento!!
E foi assim que tomou a rosa no peito
E a apertou para proteger do grande perigo
Mas já sentiu algo meio sem jeito
Mesmo buscando o bem seu colo não era tão amigo!
E o amante fazia de tudo para acomodar
A rosa e seus espinhos embaixo de seu manto
Às vezes gritava áspero por não se controlar,
Às vezes ouvia forte da rosa o doce pranto!
Mas alegre seguia subindo para o cume
Encontrar a resposta para suas esperanças
Alegrava-se ao sentir tão bom perfume
Que exalava a amada por entre pétalas em tranças!
Muito antes do que poderia algum dia
Imaginar que acontecesse consigo mesmo
Percebe que a rosa vive triste e se angustia
Ao vê-la murcha, balançando a esmo!
Sabe que não cumprira o voto feito
De sempre amar, de cuidar, de dar carinho
De fazer que o seu próprio peito
Fosse um lar, fosse um sonho, fosse um ninho!
Como errara, não podia fazer nada
Além de implorar sempre de novo perdão,
E repetir de novo à sua amada
Os votos que um dia já fizera em vão!
Buscava meios de recuperar o tempo perdido
Buscava meios de sentir-se novamente amado
Pois o amor da rosa pelo seu antes querido
Agora era indiferença, ou até ódio consumado!
Quanto mais apertava a rosa ao peito
Na tentativa de ajudar mais ainda
Via que mais a tratava com mau jeito
Mais prejudicava aquela flor tão linda!
E a rosa então fazia de tudo: que horror,
Para escapulir de suas mãos sangradas
Que coladas tinha pedaços da flor
Debatia e se feria em lutas inacabadas!
Muitos anos são passados
E a Rosa sofre calada,
Se vê despetalada
E não quer acreditar
Quando ouve que é amada
Seu sofrer não foram planos
Nem ter sua vida acabada
Pelo passar dos anos.
Mas sonhara, por causa nobre
Vê-la contente e convencida
Vê-la feliz, ou rica ou pobre,
Mas não vê-la tão sentida.
Muitos anos são passados
E a rosa não tão calada
Se vê despetalada
E não quer acreditar...
Deixa que meu pranto,
Diz a flor acabrunhada,
Deixa que em meu canto
Chore sozinha, largada!
Não desejo acompanhar-te
Não desejo ir mais além
Seguirei, não como encarte
Nos braços de alguém!
Planta-me novamente
Aqui ou em qualquer canteiro...
Respirarei, e livremente,
Estarei no mundo inteiro!
Larga-me, não me mereces
Foram muitos teus momentos
Colherás agora as messes
Que plantaste em meus tormentos!
Joga-me, pois não sou amada,
Tuas juras são mentirosas...
Eis ali uma ramalhada,
Morarei entre outras rosas...
Ou tomarei aquele atalho,
Palmilharei o semideiro,
Quando dizes que assim eu falho,
Penso:" não és verdadeiro!
Na vida continuas sonhador,
Na vida continuo a sofrer,
Deixa-me, talvez se acabe a dor,
No meu novo jeito de viver!
Tens um trabalho a cumprir,
Alem de tudo que o rodeia,
Vai... Contigo não quero ir...
Vai... Tua semente outro não semeia!
Teu trabalho é importante,
Também farei o meu,
Não negarei um só instante
O que Deus do céu me deu!
Assim foi que o amante,
Aquiesceu então por fim.
Parou por um instante,
Olhou pra seu jardim,
Viu que da rosa querida
Botões brotaram lindos
E chorando sua ferida
Beija-a, e aos botões meninos...
Ergue os olhos, a missão
Não terminou ainda...
Segue... Mas o coração
Sente dor que não finda!
Deixou a rosa onde ela queria
Já sentindo a dor do vazio;
Pensa que não mais lhe sorriria,
O amor teria grande estio.
Adeus querida, vou em frente,
Cumprir a missão que é minha...
Enquanto lamento constantemente,
Angustiad’ alma caminha...
Andava
Devagar,
Pensando,
Se eu me atrasar
Acaba me chamando,
(Quase voltava)
Esperança vã,
Engano... Ela não chamava...
(Do livro “ O Anjo e o Monstro”).