a musa

queria poder beijar a tua boca
ao menos num sonho,
sem assim, manchar a tua alma.

queria poder abraçar o teu corpo
e sentir o calor dos teus braços,
e, como vampiro,
sugar o teu espírito, o teu sangue
e os teus sonhos.

queria poder respirar o teu ar
sufocando meus desejos;
morrendo a cada toque
e renascendo a cada olhar.

oh, musa!

tu és a sombra que acompanha
os incrédulos, os bêbados,
os apaixonados,
os santos e os poetas.

queria poder sentir o teu gozo,
dissolvendo-me em átomos,
percorrendo o teu corpo.

queria poder entender a tua linguagem
e decifrar os teus códigos lingüísticos,
para com isso me fazer entendido.

queria poder acordar do teu sonho
e, como criança abortada,
descobrir o verdadeiro significado da vida.

oh, musa!

tu és a luz que me ilumina,
a sacerdotisa
do meu oráculo poético!