QUANTAS VEZES
Quantas vezes eu tive
Que atravessar
O meu deserto e o teu
Munida apenas
Das minhas fantasias
Vestidas com vários
Tipos de tecidos imaginários,
Tecidos nos sonhos
Das minhas ilusões,
Relutando com meus medos
E mitos e os superando
Para ficarmos juntos...
Quantas vezes, eu ousei
Caminhar além
Dos meus limites
Por caminhos curvos,
Perigosos, desafiantes,
Às vezes, vazios,
Às vezes, pedregosos,
Escorregadios
Para entregar na esgrima
Da suavidade do amor
A transmissão da minha vida...
Quantas vezes eu chorei
Por tudo que se perdeu;
Pelo que não chegamos a ser;
Pelo que perdi de mim;
Pelo ontem que pensava morto;
Pelo hoje que parecia escuro;
Pelo amanhã que eu não vislumbrava,
Até descobrir que o amor
É maior, muito maior
Do que qualquer depois...
Quantas vezes eu me perguntei
Como viver com esse nada
Compondo tudo ou criando
Tudo a partir dele,
Caminhando percorrendo
Os mesmos ciclos de sentimentos
Sofridos, sentidos, vividos
Como se nunca tivéssemos
Tido um começo, já tivéssemos
Começado pelo fim...
Quantas vezes
Eu falei do meu amor
Ou do quanto te amo
Sem você saber.
Amor que durante
A minha vida inteira
Só conheceu a direção
De teu olhar e que,
Nunca aprendeu
A mudar de direção.
Quantas vezes
Falei o seu nome
Só para o meu coração
Fechando os olhos
Para te encontrar
Através do pensamento
Num exercício solitário
Praticado diariamente
Na profunda solidão
Do meu querer...
Mas grafitei na poesia
Este amor louco que
Sempre fez de seu adeus
Um novo começo
Uma nova busca e que
Encurta lonjuras de mãos
Encurta distância entre lábios
E se faz presente no olho,
No cheiro, no tato, no toque,
Sem pergunta prévia
Nem planejamento metódico
Vivendo um dia a cada instante,
Um instante a cada dia
Caminhando pelas
Incertezas da vida
Pois sabe que nada é definitivo
Basta saber e sentir que,
Pelo menos um dia,
O teu dia é o mesmo que o meu...