Quando Chego Tarde

Cara amarrada, é de madrugada

E ela me diz que eu não sirvo pra nada.

Que eu não chego cedo, que ela é um brinquedo,

Que isso tem de acabar.

Traz meu pijama e senta na cama,

Me diz que é infeliz porque ainda me ama.

Diz que eu não presto, se exalta e o resto

É pesado demais pra falar.

Sozinho faço a refeição

Enquanto ela passa o blusão

E guarda meu cinto. Parece que minto,

Mas sem ela não passo, não.

E não se cansa, é manhosa a criança,

Me diz que eu só sei é encher minha pança.

Quer que eu reclame ou, quem sabe, a chame.

Às vezes eu quero é rir.

Faço piada. Ela, então, mais zangada,

Me diz que sou frouxo e que não sou de nada.

Então eu me invoco, a agarro e sufoco

Num beijo e vamos dormir.

Rio, dezembro de 1976