A peça

Assim encena sua vida que vive,

Cada dia menos um dos que restam.

Ao que se completará, nada o prive

Em hora qualquer, daquelas que testam

Sua habilidade em manter-se bom,

Sua maldade em sobreviver quieto,

Tudo o que com o toque sua mão

For de sua índole, o seu de perpétuo.

O tempo passa por entre os séculos ileso,

Transforma a tragédia em comédia,

Adquire nova forma e novo peso

E o que sobra da aventura em média,

A média vida que levou o que teve

Espólios para os vivos, ainda

Durante o percurso do que se obteve

Da própria terra em que se finda.

“Perdeste a razão se um dia a possuíste.

Com que direito vive nesta margem,

Como à espera de novo o que resiste,

Que existe às custas da ultrajem?

Pedindo esmolas aos que mais pobres são

E que sãos não haveriam de estar em dar.

Certa superioridade em fingir ser ilusão

Esta mediocridade que está no ar.”

Continua seu prolixo modo de ver as coisas

Com o lixo que se acumula ao fim do dia.

Carrego contínuo em exigir do depois as

Mesmas coisas que farão sua alegria,

Limparão dos seus pecados as promessas,

Juras da noite que cumprirá na manhã.

O mesmo jogado com as mesmas peças:

A esperança de esperar pelo amanhã.

Júbilo são atordoamentos do espírito fraco;

Forte o que sabe mentir a mesma mentira

Todas as vezes que permeia um obstáculo.

Permite que a arma que carrega não lhe fira,

Nem a si, nem a quem quiser, e por isso

O espetáculo.

Ao que lhe possa parecer justo ou necessário,

Nunca faz disso um compromisso,

Nunca volta ao início do cenário.

Leo de Laures
Enviado por Leo de Laures em 26/09/2010
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