meu ar
tem um ponto do prazer
do qual não posso me acercar
é o que me faz sofrer
e talvez desintegrar
é a hora em que você
se aproxima pra falar
que não vai saber viver
se ao seu lado eu não ficar
se eu jamais puder manter
meu nariz aonde está
percorrendo o seu buquê
que não cansa de cheirar
se eu jamais puder manter
minha língua aonde está
lambendo o que escorrer
pela fenda ao se alargar
se eu jamais puder dizer
da amargura que me dá
ao não ter do que esquecer
se você não me lembrar
o que me consome é ver
que você é como o ar
que respiro pra morrer
por querer tanto inalar
mas o que falta é saber
como vou me suportar
se a sua ausência acontecer
antes de eu me ausentar
Rio, 15/09/2006