indubitavelmente linda
é cedo ainda
remela nos olhos
ela se espreguiça
estou em Abrolhos
pareço cortiça
a caminho do Rio
me penitencio
ao vê-la descalça
vestido sem alça
nos ombros as curvas
são ondas que, turvas,
me aniquilam o momento
do meu pensamento
me jogam pra fora
do arquipélago
mergulho de novo
pra dentro do lago
do sofrimento
do qual não devia
ter emergido
barco atingido
procura o fundo
onde só quer
se reconciliar
mas ela se mexe
as pernas são longas
me olha de lado
com o rabo dos olhos
estou em Abrolhos
me penitencio
as costas são planas
me dão arrepio
ao ver que escoram
cabelos de fios
compridos e negros
suaves, macios
marcando a cintura
uma formosura
aquela cortina
que adorna a parede
(me dá uma sede)
em sutil translação
beleza incessante
que cedo me ensina
por onde inicio
a exaltação
Rio, 27/07/2006