RITO DE PASSAGEM

No dia em que te perdi,

morreu em mim o menino,

teimoso e ladino,

que queria ter tudo.

Menino mau,

te maltratava,

e te escravizava

com correntes de amor.

E era um amor de vidro,

porcelana barata,

vaso murrínio,

prestes a quebrar.

E, louco, eu alternava

palavras cândidas e gritos:

descontrolado, queria

te prender mais a mim.

Mas te cansaste

de minha infância sem fim.

E lentamente foste afastando

o teu do meu vôo.

E eu, Peter Pan sozinho,

tive de aprender,

na dor de uma perda,

a ser um pouco melhor.

Hoje, o que de infância

em mim restou

foi só o prazer de brincar

com palavras em versos.

E reconstruir minha dor

na forma de uma canção.