Ângelus
Tudo é mais confuso quando
Falamos de nós dois juntos
E se estás ou não amando
Os gárgulas transcendentes oriundos
Do teu nefasto pensar!
Um istmo íntimo, isquemia leviana
Teu sangue em tergiversa termal
Hora como de bela cigana
Outrora como reles mortal
Que vem ludibriar...
Teu coração em gastrópode
Pode enfim aperrear-me lúcido
Sem mal sofrerdes que opte
Por torturar-me ao crepúsculo
E caminhar torna-se apócrifo
Missão astigmática
De carregar o próprio sarcófago
Em incompreendida matemática
Ângelus...
Piedade por ti, por mim
Não pelo nós, que inexiste
Expressão eterna de carmim
Face maquiada, maquiavélica e triste!
Ostento respingando amor meu coração
Não sagrado, mas sangrando
Pelos males de tua árdua intenção
De continuá-lo pisoteando...
A mágoa invade-lhe as retinas
Apertando-lhe pálpebras
Dilatando-lhe as pupilas
Corroendo-te as vísceras
Pudera eu abolir-te todo o mal!
Como já vieste-me, como o que veste-me
Feito couraça a proteger-me o peito
Eis que agora esqueces-te
Deparar-te-ei-nos a tua virtude e maior defeito
Aguça, benquista, tortura e conquista nosso amor!