DESESPERANÇA
Não sei em que brisa você veio
Em que veio de brilhos,metais
Em q’sais banhaste este teu rosto
De onde vem o não-desgosto
Sonhos d’Ícaro, irreais.
Sinto-o sem precisar sentidos
Enlouquecido amor-poeta?
A seta?- Amor-Platão volátil
Que toca mesmo sem o táctil
Incerta vem e o peito acerta.
Amo-te meu doce cantor!
Dor! Dorme! Não quero sentir!
Mentir a mim, enganar a tristeza
Sem você, vazia de mim mesma
Pra não chorar tento sorrir.
Não me culpes. Amar-te assim
“Fim”! digo de vezes milhões
Grilhões! Menina inocente
Ao mundo cru indiferente
Teima em crer: elos-corações.
Sem esperanças! Deus! Acalma
M’inhalma calma! É só quimera!
Fera e espinho indolor
Viver o verdadeiro amor
Q’apenas ama e nada espera.
E este amor de querer bem
É bem maior que meu querer
O que fazer, se eu te amo?
Esperneio, grito e reclamo
Pra neste vazio adormecer.
Privo-te da minha presença
Pra nesta ausência seres tu
E do meu Ego o meu ser despido
Serei eu, este ser adormecido
Que te ama, de planos, nu.
Eu te vejo! Etéreo, ao longe...
Monge sou, solidão de astros
Meus braços sós, tua voz escuto
E no meu céu sem sol, eu luto
Pra não querer mais o teu abraço
Abrigo a amante não amada
Calada, sua voz que já não diz
Fiz do sal um sol infinito
Num espaço livre, mais bonito
Quem sabe, eu serei feliz?