AMOR PREDADOR

Ela desenhava ao ar um delicado gradil de luar

De setas bem pequeninas e ilustradas

(ou seriam só as alegrias reflexas da noite iluminada?)

Seu andar sacudia o tapete musgo dos prados

E seus pés corriam voantes como um arroio de ar

Seu olhar intenso aparecia de surpresa, longo

Como uma serpente ardil e decidida

Mordendo meus olhos hipnotizados de camundongo...

E era como se eu descobrisse a dor de ser amado

O estupor esgoelado de ser vítima do amor do predador...

E o olor do tempo deixava atrás um rastro

Um recado suave, que se infundia afrescado ao lugar

E eu entendia que o momento era uma reza

Que lábios libertos recitavam um ao outro

Comunicando, pelo enlaçar das línguas,

Da brevidade infinita da vida

Contida num único beijo estonteante.