O tempo foi passando, e ela acabou por dizer…:
“Tenho um coração que se parte
Como o de qualquer pessoa
Cada vez que me apaixono
E essa paixão se transforma em nada
Mas os seus pedaços
Transformam-se em infinitas estrelas
Que me iluminam
Em certas e vazias madrugadas…
E sei que não é suposto
Ter tantas dores
Tantos prazeres
E uma só desilusão
Mas afinal o que é o certo
E o errado
Quando se ama
E transformamos isso
Na nossa doce cegueira
Na nossa suprema Ilusão…?
E eu sei que te amo
Mas não sei como to dizer
Sei que te amo
Como amo outras coisas
Mas a nenhuma delas
Eu me quero prender…
No lugar comum
Dito e repetido
Num milhão de palavras
Sou um pássaro
Saudável
Um pássaro ferido
Que quero imensas coisas
Quero o meu ar
Mas francamente
Desconheço
Quem quero
Realmente
Comigo…
Porque não sei
Se te quero por agora
Se no dia que virá a seguir ao amanhã
Sei que te amo
Mais do que o sei
Sei que o sinto
Embora esteja fechada
De uma forma inconsciente
Nas minhas contradições
Sei que te amo
Mas temo
O que possa vir depois
E leio nos teus olhos
Que entendes
As minhas asas de borboleta
Que lês
Como eu gosto que leiam
O vasto universo que há no meu olhar
E que ninguém fica o tempo suficiente
Para tal explorar
Mas tenho medo
Muito medo
Que depois de partir
Como parto sempre
Tu por mim
Não me vás esperar…”
E eu olhei-a, e de facto vi-a
Não lhe podendo prometer nada
Não lhe jurando nada
E com um toque na sua mão cristalina
Disse
Que estaria sempre algures
Onde ela me pudesse encontrar
Mas tinha chegado a minha hora de partir
Porque aos seus imensos afectos itinerantes
Eu queria chegar
Quis sempre
Mas tinha-me por fim cansado
Com a sua forma volúvel
Mas demasiado permanente
De Estar…