Poema 0826 - Noite nua
Deixa-me ser o sonho da sua noite nua,
o pedaço de carne que sustenta o prazer,
a flecha que atinge o ponto vermelho da paixão,
a aventura que jamais existiu nas suas noites,
resista, tente, se conseguir, bato a porta e vou.
Posso até morrer antes do próximo amanhecer,
não sou o sono que sustenta, nem as palavras que ouve,
esconda-me entre suas pernas, prenda-me,
um infinito de sentimentos ronda sua carne louca,
talvez sonhe depois, antes seremos amantes.
Sou o teto quente deste céu que não te cobre,
o corpo, o pedaço que completa seus meios desejos,
o suspense que mostra a sombra atrás do biombo,
a longa espera, o sol que faz a tarde atrasar a lua,
o grito abafado pelo beijo de gozo.
Quero ser injusto, confortavelmente forte e tolo,
farei a solidão agonizar antes da meia-noite escura,
desprezo às luzes do teto, como se fosse você a estrela,
paciente, retiro as vestes daqueles ontens,
saco meu punhal de amor e o sacrifico impune.
Que passe a vida-velha, quero ouvir os gemidos de dor,
por não temer, desafio à morte deste velho-novo amor,
estou imune a tudo que não tem uma continuidade,
um depois que me aceite na sua cama longa e quente,
o refúgio conhecido deste outros males que me aflige.
Ignore o covarde que definhava na mascara de bom,
cansei de ser sonho duma noite, duma mulher qualquer,
volto hoje ser a carne desta noite nua,
o olhar desvia o rosto do espelho carregado de recados bobos,
sou o amor que toma sem pedir e se perde dentro do corpo.
26/09/2006