Incógnita
Não conta que parta de ti
Ou de mim
Nem que não o tenhamos criado
Para oferecer-nos.
Arrastamo-lo à nossa existência
Como a paixões distantes
Às que sacudimos o pó dos anos
E
Por bem
Chamamos a nós.
Não lhe damos um nome
Como por medo a fazer poesia
Ou temor ao dedo apontado
Que afugenta romances
Ou
Tão-somente
Por não querermos encerrá-lo
No estreito horizonte
De escrita e fonema.
Em tempo de trocas
Dispamos toda a roupagem
Que não seja a nossa
E vivamos momentos
De nocturnos amantes esperando a manhã.
Eu ofereço-me entrar
Na tempestade da tua solidão
Para que a minha se faça pequena
Conheça a bonança
E a cadência do meu andar a solo
Se faça ouvir em duplo caminhar.
Não importa que o faças
Também
Por mim.
Não conta de quem parta a oferta
Se um beijo pode curar-te
E salvar a fragilidade
Do teu corpo em vivo cristal
Ou afastar os passos
Que invadem
E pisam
O meu
Quando o sol se apaga e a noite cai.
Dêmos-lhe um nome
Ou não.
Parta de mim
Ou de ti.
Algo será
Com a nudez necessária
Que me leva a buscá-lo
E a pegar-me a ele
Como reduto último
De agitada vivência
E imparável desejo.