Incógnita

Não conta que parta de ti

Ou de mim

Nem que não o tenhamos criado

Para oferecer-nos.

Arrastamo-lo à nossa existência

Como a paixões distantes

Às que sacudimos o pó dos anos

E

Por bem

Chamamos a nós.

Não lhe damos um nome

Como por medo a fazer poesia

Ou temor ao dedo apontado

Que afugenta romances

Ou

Tão-somente

Por não querermos encerrá-lo

No estreito horizonte

De escrita e fonema.

Em tempo de trocas

Dispamos toda a roupagem

Que não seja a nossa

E vivamos momentos

De nocturnos amantes esperando a manhã.

Eu ofereço-me entrar

Na tempestade da tua solidão

Para que a minha se faça pequena

Conheça a bonança

E a cadência do meu andar a solo

Se faça ouvir em duplo caminhar.

Não importa que o faças

Também

Por mim.

Não conta de quem parta a oferta

Se um beijo pode curar-te

E salvar a fragilidade

Do teu corpo em vivo cristal

Ou afastar os passos

Que invadem

E pisam

O meu

Quando o sol se apaga e a noite cai.

Dêmos-lhe um nome

Ou não.

Parta de mim

Ou de ti.

Algo será

Com a nudez necessária

Que me leva a buscá-lo

E a pegar-me a ele

Como reduto último

De agitada vivência

E imparável desejo.

Jacinto Estrela
Enviado por Jacinto Estrela em 10/09/2010
Código do texto: T2490021
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