Só para mim
Aquela tarde nunca mais sorriu
E me olham com tanto desdém
Aquelas árvores tristes do parque
E meus ouvidos ensurdeceram
Para as músicas de saudade e aconchego
E eu não chego mais aqui, eu venho aqui
Tomar conta da solidão e da tristeza
Com o mesmo irrepreensível apego
As noites frias e vazias zombam de mim
Com seus tormentos tratados com tanto zelo
Não me querem mais as páginas caladas
De um caderno que dói só de tê-lo
Restam em branco folhas angustiadas
Na certeza de não poder mais escrevê-lo
Poesia? Madrasta dessas horas marcadas
Palavras que desenham esse pesadelo
De tão tolas esperanças mal acabadas
Nenhum poema mais te encanta ou encontra
E eu te perco ainda muito mais, e em silêncio
E em silêncio essa saudade vem e me afronta

Só para mim
Um amor que não sei mais expressar
Nessa ausência que aqui se instala
Na hora de dormir, na hora de jantar
No quarto, na cozinha, aqui na sala
Quanto mais eu quero, eu não sei
Perdi a capacidade de olhar teu olhar
Do olhar para a beleza de todas as coisas
De todas as coisas que só sabem acabar

Só para mim
Tudo isso que não consigo mais carregar
Então leva daqui cada lembrança tua
Então leva daqui o teu cheiro
Teu sorriso impregnado em meu olhar
Leva daqui essa razão que ainda tenho
Para ainda não deixar de chorar
Leva daqui tua alma presa à minha
Essa vontade do corpo que aos poucos mata
E qualquer vontade de ainda poder sonhar
Leva daqui os lugares onde fomos
E aos quais não sabemos mais voltar
Leva esse grito que tanto me atormenta
Leva o que não soubemos guardar
Leva o que não mais nos alimenta
Sim, o grito, leva o grito perdido no ar
Que eu te amo sim
Te amo tanto assim
Te amo do mesmo jeito e mais
Muito mais do que antes do fim...

(Poesia On Line, em 10/09/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 10/09/2010
Reeditado em 01/08/2021
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