Estranho encanto nesta noite triste...
Vesti-me de azul nesta noite linda!
Meu vestido longo, feito só de sonhos
Pintalgado de estrelas, as mais belas,
Que não deixavam ver, mas entrever,
No sutil decote, os seios arfando,
E o corpo estremecendo, lembrando beijos,
Palavras sussurradas, carícias muito doces,
Olhei-me no espelho, gostei do que vi:
Uma mulher madura que sabe o que é o amor
E sente o intenso fogo do amor e do desejo
Na paixão insana de se deixar possuir,
Com formas ainda belas e sonhos pueris...
De repente, os longos cabelos,
Que tive outrora voltaram para mim,
Tocando-me a cintura em doce frenesi
E meu passo lento, suave como a noite,
Deslizou seguro por uma pequena fresta
Da porta desta casa, onde eu para mim nasci,
E galopou ao luar, indo para ti...
A brisa da noite fez-me correr no céu
Como noiva preparada para os esponsais,
Um véu de flores, bordadas com diamantes,
Refulgia na noite, mais lindo do que a lua
E os meus pés pareciam asas
Indo a um lugar que fica bem longe
Atrás muito atrás do Arco-Íris
Lá, onde os “sonhos todos,”
como tocados por sutil milagre,
Podem “se realizar...”
Uma cama macia, feita de relva me esperava,
E uns olhos doces, como jamais vi,
Sorriram para mim, na noite prateada,
E um perfume de sândalo se podia sentir
E uma voz doce, muito conhecida
Disse: - “Estou aqui...”
Os meus pés macios que voaram pela noite
Deslizaram suaves, indo ao encontro
De quem me chamava e estava ali...
Entre beijos e sussurros desmanchou-se o véu
E uma chuva de pérolas caiu sobre mim
E o vestido azul de noite, escorregou macio,
E corpos se encontraram e se procuraram
Entre os perfumes de sândalo e de flores
E se fez amor na noite, sem ter fim,
Pois o desejo há muito reprimido
Tinha saudades do que ainda não foi
E ali se realizava ante os sons noturnos
Da canção das árvores e o murmurar do rio...
Uma noite como esta não deve ter fim!...
Mas amanheceu!... Vi-me em minha cama
Solitária e fria... Mas, que coisa estranha,
Meu corpo saciado e umedecido
Trazia em minha mão uma pequena flor,
Uma rosa vermelha, qual carmim...
Um perfume estranho e muito suave
Como um milagre, impregnava a mim...
E no raio de sol que entrava no meu quarto
Os sete matizes brilhantes do Arco-Íris
Dançavam com estranha e doce melodia...
- Sonho?... Realidade?... Não saberei jamais...
- Mas... A pequena flor estava em minha mão...
E eu sorri...