MÍTICA DESPAIXÃO
MÍTICA DESPAIXÃO
O sonho flechado pela realidade,
Sem idealizações ou idolatria,
Em busca dos indícios de verdade,
A exposição do mito pressagia.
Máscaras em silêncio utilizadas,
Despencam ao sabor do sol poente,
Desfazem as certezas imaginadas,
Revelam a percepção incoerente.
A conjuctio, pretensão arquitetada,
Em veras, não foi fato nem um dia
Em soluctio fora dantes transformada
Pondo a anima em letárgica anestesia
O diálogo, ambivalente convicção,
Mostrou-se insustentável devaneio,
Por Thanatos virou mera opinião
E Shiva fez do fim somente meio
De Pandora vem Nix por presente,
Com o gelo a inaugurar novo estado,
E o Caos em entropia permanente
Desintegra o impulso apaixonado
Revisitada, de Demeter, toda a tristeza,
Em monólogo, no triangulo estabelecido,
Com inverno d’alma, a negar cabal beleza
Do eterno encontro, como fora prometido
Sonambúlica Psique, desacordada,
Ver Kronos distribuir insegurança,
Calcinando, a despertar, atordoada
Entende ser plausível a temperança
Aspira a luz, no exercício da razão,
Organiza a kairótica experiência,
Separa o sentimento da projeção,
Expõe o que é amor na consciência
E Eros que na alma fez morada,
Sem asas, é simples indumentária,
Não exclui a qualidade da amada,
Mas denota que já não é tão necessária
Com o apego e aversão em processamento
No embate dos contrários é unificado
Sublimado em caminho o sofrimento
Da ilusão do desencontro apaixonado.
Neste mito com teleológico significado
Magia, real, vida e Tao se compara
A semente da evolução, por outro lado
É também a ponte para o Samsara
Mas o tempo, velho sábio, tão resoluto
Apresenta nova alvorada por lenitivo
Faz Narciso sobreviver ao extremo luto
Reconhecendo na paixão um aperitivo
Um convite para o ego à transcendência
Descortinando a jornada pelo coração
Na epopéia da superfície para a essência
Só o amor é ferramenta-individuação
Dupoeta