E enquanto a chuva caía…
Tu dizias-me baixinho ao ouvido
Como se tivesses medo
Que a chuva levasse
E lavasse essas palavras…
“Gosto de ti
De uma forma que não sei como o dizer
De uma forma a que não sei se poderemos chamar Amor
Gosto de ti porque o sinto
E sinto a tua falta
Quando sais bem de noite
Quando não estou contigo ao amanhecer…”
Eu olhei para a profundidade dos seus olhos
Nos suspiros que eles imanavam
Porque apesar dela falar pouco
Entre nós ainda haveria muito para dizer
E ela continuou…
“Gosto de ti
Porque quando estás comigo
As estrelas
Possuem outro fulgor
Uma inesperada magia
Gosto de ti porque me ensinaste
A ver as estrelas como as pessoas
Que amamos
Mas que estão ausentes
E assim quando a saudade nos devora
Basta olhar o céu à noite
E elas lá estão a olhar para nós
Com todo o seu vasto amor…
Gosto de ti porque és diferente
Porque te atreves a num mundo de normas
Teres as tuas
Sem violares as leis de uma sociedade
És tu
Com a tua luta
Com a tua forma bem vincada de seriedade…
Gosto de ti
Porque nunca me deixas só
Mesmo quando estou
A pensar na solidão
Respeitas o que sou
O meu sono de afectos
E quando abro os olhos lá estás tu com a tua estendida mão…
E assim eu pego nela
E dou comigo
Por todo o lado a viajar
Mesmo que fechada num recanto
Aprendi contigo a voar
Tu nada me pedes
Tu nada me exiges
A não ser
A mais pura
E desinteressada
Das camaradagens
Gosto de ti
Porque me fazes sentir em casa
Mesmo quando sabes que estou de passagem…”
E então olhei bem para ela
Como nunca tinha olhado
Percebi que o amor mais genuíno
É o dado pela amizade
Abracei-a então
Sem saber
O que seriamos
No futuro que estava a nascer
Importava-me aquele momento
E não o que se pudesse seguir
Importava-me que a amava
E isso
Mais do que todas as coisas
Nela que eu não compreendia
Era a mais relevante
Podiam-se passar mil anos
Mas sentia
Que teria
Até tudo deixar de fazer sentido
Teria
A sua companhia…