RETÍCULAS
RETÍCULAS
Criatura herdeira de uma tradição que não deu certo
Elo de ligação entre uma geração que viu tudo acontecer de perto
Que aprendeu a amar em velhos livros do passado
Que escolhera a dor, do que a dor Ter enfrentado
Navegou em mares bravios sem sequer Ter o barco desancorado
Viveu os sonhos passados, mas preferiu não tê-los sonhado
Morreu em sua excência sem ao menos tê-la conhecido
Sentiu todas as dores do parto, muito embora nunca tenha parido
Pintura inacabada de um artista morto
Transbordada em desejos calados e presos no inconsciente de um mar revolto
Das retículas dessa desconfigurada gravura
Da magistral singeleza de sua simples ternura
Vejo os tons do meu pensamento se dissolverem como tonalidades decadentes
Revolvo-me para meu interior em busca de respostas inexistentes,
Calo-me diante do horror ao qual transformei o invólucro de minha alma
Brutalidade inconsciente levada a extremos da tola calma
Os absurdos e aberrações da vida, são maiores em nós mesmos
Ingênuos seres portadores da banalidade levada a esmo
Ainda somos capazes de sofrer por perdas insignificantes
Tolher de nossas vidas momentos deveras relevantes
Choramos por paixão
Imploramos por perdão
Sem nunca Ter ouvido falar em...compaixão
Voltamo-nos para o amor
Para os nós presos do rancor
Percorremos as estradas fendidas pelo dissabor
Registramos tudo em nome do sacrossanto “eu”
Divindade abstrata e absoluta devotada a tudo o que é “meu”
E que não sabe ainda em que ponto de sua jornada se perdeu.
Sérgio Ildefonso Mar/2004
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