SEXO BOM (OU RUIM)

Do andar superior

Partiam estampidos mansos

Pancadas ritmadas, engastadas

Ruídos parvos de gargalhadas,

De músculos em solavancos.

Solapados corpos em enganche,

Delatando os dois luxuriosos anchos...

Remataram-se em lascivos uivos e sussurros

Calando-se por fim em abafados tossidos...

Quando os julguei dormidos

Começaram tudo de novo...

Eu, por falta de opção,

Mesmo que não quisesse, ouviria!

(Lá no fundo bem que queria...)

Era o nítido frenesi da natureza

Erigindo mais e novos corpos e almas

A copularem sobre minha cabeça,

A invadirem-me as noites calmas

E lembrarem-me que, apesar de mim,

Existe por aí sexo bom (ou ruim)

Rolando porta (janela) afora

Aliás, bem no andar de cima...

Que assim seja:

É bom para povoar o mundo;

(Muito melhor para um poeta surdo...)