Perdão

PERDÃO

E eu que pensei

Que sair de ti

Ganharia o mundo

Pássaro na imensidão

Pluma, leveza de balão.

E eu que pensei

Que ao quebrar os vínculos

Sentiria todos os dias

O roçar dos ventos

Aliviado de tua presença.

E eu que pensei

Que ao romper os laços

Seria fácil, facílimo,

Seguir caminho,

Tocar o barco,

Apagar de vez

Tuas indeléveis marcas.

E eu que pensei

Que seria simples

Tranqüilo de acostumar

Descortinar os anos,

Desviar o curso,

Evitar o mar.

Puro engano (...)

Real ilusão.

A tua presença ausente

Ecoa sempre o peso insuportável

E quente do silêncio

Em meu quarto.

A tua presença ausente

Está absurdamente impregnada

Nos meus objetos,

Nas minhas roupas,

Na minha pele

Na minha mente.

Agora entendo:

O coração não é um felino

Obediente ao seu dono.

Não é um cavalo alado

Na relva do destino.

Precisamos ouvi-lo

Mais atentamente.

Agora entendo:

Que é impossível

Livrar-se da própria sombra,

Remar rio acima,

Tentar contra o óbvio.

Agora entendo:

Há em nós

Uma doce inocência

Disfarçando o medo

Do caminhar sozinho

E carentes.

Há, também, em nós,

Uma energia motriz,

Uma força maior

Que suplanta os defeitos,

Arrefece o orgulho,

Com precisão de dardos.

(...) Antes que seja tarde,

Entreguemos as armas

Abrandemos os espíritos.

Tolice, bobagem mesmo,

É não nos perdoarmos.

Carlos Abdon Quirino.

Carlos Abdon
Enviado por Carlos Abdon em 28/08/2010
Código do texto: T2465487