Perdão
PERDÃO
E eu que pensei
Que sair de ti
Ganharia o mundo
Pássaro na imensidão
Pluma, leveza de balão.
E eu que pensei
Que ao quebrar os vínculos
Sentiria todos os dias
O roçar dos ventos
Aliviado de tua presença.
E eu que pensei
Que ao romper os laços
Seria fácil, facílimo,
Seguir caminho,
Tocar o barco,
Apagar de vez
Tuas indeléveis marcas.
E eu que pensei
Que seria simples
Tranqüilo de acostumar
Descortinar os anos,
Desviar o curso,
Evitar o mar.
Puro engano (...)
Real ilusão.
A tua presença ausente
Ecoa sempre o peso insuportável
E quente do silêncio
Em meu quarto.
A tua presença ausente
Está absurdamente impregnada
Nos meus objetos,
Nas minhas roupas,
Na minha pele
Na minha mente.
Agora entendo:
O coração não é um felino
Obediente ao seu dono.
Não é um cavalo alado
Na relva do destino.
Precisamos ouvi-lo
Mais atentamente.
Agora entendo:
Que é impossível
Livrar-se da própria sombra,
Remar rio acima,
Tentar contra o óbvio.
Agora entendo:
Há em nós
Uma doce inocência
Disfarçando o medo
Do caminhar sozinho
E carentes.
Há, também, em nós,
Uma energia motriz,
Uma força maior
Que suplanta os defeitos,
Arrefece o orgulho,
Com precisão de dardos.
(...) Antes que seja tarde,
Entreguemos as armas
Abrandemos os espíritos.
Tolice, bobagem mesmo,
É não nos perdoarmos.
Carlos Abdon Quirino.