As noites do pampa são noites de amor...

Aqui, neste recanto brasileiro,

Onde o Minuano chicoteia no inverno

E a geada, de manhã, queima quem anda,

Se esconde um feitiço traiçoeiro:

As mulheres amam mais e sofrem muito

E ficam quietas sorvendo o seu mate,

Chimarrão companheiro das matinas,

Amigo que aquece as vespertinas

Horas da noite em que elas estão sós...

As noites do pampa têm estrelas

E cada estrela é uma lágrima que canta

Junto ao luzeiro do céu, a sua dor...

Essas mulheres mesmo frágeis são guerreiras,

E silenciam ante todo o mundo inteiro

O abandono de quem lhes é o amor...

Cada lágrima que rola em silêncio

Transforma-se no céu em uma estrela

E é por isso, que as noites, no Rio Grande

Tão estreladas se curvam ao Cruzeiro...

As mulheres do sul não foram feitas

Para ser feliz na solidão...

E, normalmente, esta é a companheira

Das que amaram em vão...

A mulher do Sul ama demais

E se doa por uma vida afora

E nas noites estreladas deste chão

São incontáveis suas lágrimas lá fora

Enfeitando as noites de ébano pintadas

Por sofridas mãos...

Nas noites do pampa, as mulheres,

São com certeza, mui melhor amantes...

Nascem livres sob o som das cachoeiras

Cortando umbigos com tesouras de esquilar...

Tomam banho nas águas dos riachos

E nas sangas, lavando suas roupas,

Tem com as lágrimas o mais forte alvejante

Pois são mulheres que não param de sonhar...

Sonham com os homens dos romances

Lidos à luz de velas e lampiões;

Acreditam nas palavras de amor

E se entregam às delícias do calor

Que vem das chamas que estalam nas lareiras

Tendo por colchão os seus pelegos

E ao seu homem entregam seu ardor...

Mas este homem, que mata pelos campos,

Acostumado aos combates pela terra,

Não é fiel nem luta só por elas:

Interessa-lhes mais as que mais dote

Ainda tenham a ofertar! Por mais status!...

E a gauchinha humilde da campanha

É trocada pela “senhora dos salões,”

E espera em vão que seu gaúcho volte...

As noites do pampa são ardentes

Como as mulheres, que, apesar de suas correntes,

Arriscam a vida e honra por amor...

São fogaréus de paixão e de desejo

Mas, descartadas, sem que haja nenhum pejo

Pelas “bonecas ricas dos salões...”

Que amargam a vida de seus homens,

Que gastam com modismos e invenções

E os tratam mal, como se fossem suas donas,

Pois os compraram a preços de peões...

E a gauchinha, humilde, no seu rancho

Ardendo em febre de amor e de saudade

Fica esquecida... Mas ela não esquece!...

E envelhece olhando o horizonte

À espera de que um vulto conhecido

Se apeie do cavalo e entre beijos

Aplaque seu desejo incontido...

E se acontece, ela perdoa, ela entende,

E o enche de carícias sem igual...

Até que ele, não mais que de repente,

Se ausente... E não volte mais...

- As noites do pampa despertam desejos

Mas guardam segredos

Das que amaram demais...

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 27/08/2010
Código do texto: T2463592
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