CONFISSÃO EM TRES ATOS

PARTIDA

Agora que seus gritos silenciaram e a morte lhe roubou

O brilho dos olhos e o calor dos lábios vermelhos,

Que seus dentes cerraram num rito de luta e medo

E seus dedos crispados me prendem junto a seu frio corpo.

Impossível negar sua existência secreta e a sua vida

De clausura e de desdita

Revelo com pesar e com saudoso sentir que sempre

Retive-lhe junto de mim, para que o mundo não lhe visse.

Como deixar transparecer na vidraça da minha alma

Outro ser, nascido de desventurada permuta entre loucos

Num banho lunar por entre os pingos de chuva das estrelas.

Como deixar que outros olhos lhe reconhecessem

Sem que lhes admirasse a presença e lhe deitassem na relva

Molhada das manhãs ensolaradas de sagradas primaveras.

GAMETA

pareça e desvende os mistérios antes presos em caixa de pandora

Desfaça o falso conceito de que o serio é menos feminino

Aja como se não existissem regulamentos e nada fosse proibido.

Da ponta de seus dedos finos, toques suaves de carinho

Traga em sua branca pele o perfume de canela, e nas orelhas presas

Lindas flores, abundantes e frescas camélias como naturais brincos.

Das longas Vestes em gaze transparente, torna-se, alta estátua

Deixando a mostra seus pés de gazela, lépida pela relva

Na mostra consciente de seus contornos belos e elegantes

De criatura consagrada em fenda, como a terra o é para a semente.

Sua voz, baixa e veludosa no momento de medo, traz, paz

Seu canto envolvido em emoção faz bem ao revoltado coração

Seu murmúrio lento mesmo de longe, dá sensação de sua presença

Seu gemido constante e ritmado, provoca o êxtase no pastor desalmado.

PLATÔ

Relâmpagos pelas costas, pelo cérebro e pelo ventre

Força em movimento, correr do sangue vermelho e quente

Imagens de corcéis em disparada, crinas soltas sob o sol.

Calor intenso em meio aos frios pingos de suor

A flor da fome, que recolhe em colheita esmerada

Um rio de lava derramado por veio tenso em fogaréu.

Não relaxa e não reduz, prende em si a presa, exige

Enlaçando feito serpente um corpo verdadeiramente nu

Em disparos elétricos emitidos sob os cabelos molhados

E licorosas trocas parceiras escondidas, nesse momento velado.

Acasala emitindo raios luminosos pelo ar embalsamado.

Entre paredes desaparecidas da câmera excelsa e divina

Das chamas pequenas, mundanas, viventes nesse mundo vil

Fagulhas brilhantes incendidas rumam para o céu azul.