FALANDO COM O CÉU
Cerrei a boca da noite
não mais falei estrelas
calei perguntas vãs
ao céu de paredes sem janelas.
Havia uma rosa amarela
dizendo ternuras inúteis
para ouvidos moucos,
havia promessas mudas
e risos enclausurados
e um gato no telhado
miava inconstâncias felinas
você falava a língua estranha
e eu repondia em página virada
o vaso velho de cerâmica
guardava um talo seco
em água turva
sobre a mesa empoeirada.
Resquício de antigo esplendor
fora sim, a alma em flor
que colhera antes da chuva
aquela rosa amarela
escandalosamente bela
aberta como corpo de mulher
à espera do beijo do amado
(como era doce aquele beijo)
Pelos vãos da minha mente
jorrava o líquido torturante
de víceras atormentadas
atropelo de delírios
e entre devaneios e fúrias
eu só queria os sentidos
mas bradava o som aturdido
de muitas perguntas incômodas
e a minha roseira agora
parecia morrer de tristeza
o céu de chumbo
anunciava
muita chuva e estranheza.
Sol do céu que fora pleno
e tão cativante
agora se ia retirante
e eu só via aquela longa estrada
aquele caminho sem volta
happy end borrado na tela
promessa de não cumprir
reza pouca pra falsos altares
silêncio pelas paredes
e a noite de boca fechada...
...que céu me trará ainda,
a minha rosa amarela?