ÀQUELE QUE NÃO SABE LER



Poucos reconhecem a aura que se instala na sombra das letras, que se aconchegam e vão se transformando em novas palavras, fazendo sentido aos ouvidos doa alma, da mente, do coração.
Pouquíssimos agraciados, letrados de poesia, conseguem discernir no vulto a imagem, que flui e que escapa do espelho, tal qual gás neon, mostrando o extremo da consciência, daquele que é mero instrumento, para psicografar milhares de histórias, que eram, na verdade, Poesias. Que se deixaram ficar, no esquecimento, em gavetas, desistidas.
Tudo por culpa de Eros, deus do amor, que, com ciúmes do Poeta que consegue amar sozinho, deixou sua alma no limbo, de castigo, jogada num canto da taberna, vagando de livro em livro, de mão em mão, no mesmo ritual, num abrir e fechar constante de páginas amarelas.
Nesse grande turbilhão, há os que também não sabem ler, são aqueles que confundem a exatidão dos números com a amplidão e o fulgor do alfabeto. São os que não entendem que o Poeta precisa libertar as letras porque elas queimam e ficam atormentando o cérebro, tentando sair e ter vida própria, tal qual chama eterna, luz do candieiro, farol, braseiro.
Tudo por culpa de Eros...o fato das mulheres existentes no Poeta, viverem murmurando, isoladas, em camas de solteiro, e geralmente próximas a um fogareiro, tecendo poesias de noite e queimando-as de dia. Fazem assim, para não deixar indícios, traços visíveis no mapa, que possam inocentemente denunciar como foram queimadas as cartas de amor proibidas na inquisição, que continham tantas poesias não ditas, apenas sussurradas ou contadas com olhar.
Só sabe ler poesias, aquele que realmente viu,
 “As Roupas Novas do Rei”.
Railda
Enviado por Railda em 24/08/2010
Reeditado em 26/07/2013
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