NARCISO


Em qual espelho te contemplas?
Em qual riacho te deleitas?
Em quais braços te enleitas?
Em quais beijos te aquietas?

Pobre de mim, ele não me vê!
Mas sou a sombra lívida e fria,
que o acompanha e margeia.
Sou o som da maré cheia.

Em seu encalço me esquivo,
acompanho teus passos.
Logo à frente o embaraço:
Narciso em outros braços...

Deparo-me com a rival no rio,
ele curva-se tal qual carvalho,
diante da eminente tormenta.
Fica petrificado pelo espelho,
defronte sua própria beleza.

Minha rival não é humana,
é sua própria imagem no lago.
Ele se joga nos braços dela,
não me esforço para salvá-lo.

Morremos os dois, cada qual
à sua maneira pois como castigo:
viro Eco do minuano a espreitá-lo.
Incrustada, na rocha, a amá-lo.
Railda
Enviado por Railda em 22/08/2010
Reeditado em 26/07/2013
Código do texto: T2453304
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