UMA GARRAFA DE GAMAY
UMA GARRAFA DE GAMAY
Deitado em tua sala,
Sinto os felpos do tapete que roçam em nossos corpos nus,
Palavras, gestos, toques,
A plenitude desenhada na simplicidade de meros afagos,
O frio que arde lá fora, a muito fora-se embora...
Nossos corpos se aquecem mutuamente,
Em movimentos de amor formados em perfeita sincronia,
Os gemidos suaves, a plena sinergia,
Dois corpos abraçados,
Dois corpos realizados,
Dois corpos deitados,
Penso em uma taça de vinho,
Qual vinho definiria nosso momento?
Um merlot? Denso e forte,
Um cabernet franc? Deveras simplório para tanta emoção,
Talvez um sauvignon? Clássico, mas envelhecido,
Pinot Noir? Perfeito, mas ingênuo,
Uma Shiraz poderia ser bom, mas tem a acidez da jovialidade,
Tannat, encorpado por demais, seco demais,
Malbec, poderia ser essa a casta, mas é feito por argentinos,
Gamay, encorpado, jovem, denso, mas característico, único, lírico, de procedência divina,
Serviria-te uma taça desse néctar abençoado por Bacco e Dioniso,
Teu corpo seria minha taça,
Verteria em você o primor dos varietais,
Beberia de você a fonte de meu prazer,
O gosto das parreiras sombreadas em minha boca,
O gosto de teus beijos perfumados pelo aroma da mais nobre fruta,
E depois de te-la tanto,
Depois de ama-la tanto,
E depois de Ter sido amado tanto,
Embriagar-nos-ia nos delírios de um vinho tinto,
Seco como a vida, estonteante como o amor,
Denso e intenso como nossas vidas,
Mas sereno como nossas almas,
Te ofereço uma noite de prazer,
E uma garrafa de Gamay.
Sérgio Ildefonso Jul/2003
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