Amores à mesa

Muito exigido o teu amor fugiu do meu,

feito uva morta e em passa transformada,

tal como um vinho bebido antes da hora exata

e inda na safra doce das cascas.

Faltam-me as flores de tua primavera,

vistas por meu coração outoneado

e apenas no fim do verão reexistido.

Sobraram-me teus beijos negados,

tua fúria silenciosa escondida em teus abraços,

um amor escondido de tudo,

nos dias em que eu mais te amei confuso e dado.

Parti na hora do desigual instante!

Os sonhos nunca se acabam, antes sobrevivem

e é por isso, eu acho, o meu amor morto em ti ainda existe,

esperando sangrar de nós uma paixão cevada.