UM HOMEM CHAMADO ILUSÃO
UM HOMEM CHAMADO ILUSÃO
Talvez eu não sinta, o que penso em sentir,
Talvez eu nunca tenha escrito, o que sentisse,
Talvez o sentimento fosse algo completamente distante e porvir,
Talvez a cada linha digitada...eu mentisse,
Sonhos e castelos construí a partir de minha mente,
Lágrimas e sangue, foram pintados a nanquim e guache,
Ilusões e mentiras seguiram adiante de mim, a minha frente,
Provérbios amaldiçoados, mesmo que eu não os ache,
Narrei as liscicitudes do ser “eu mesmo”,
Mapeei, retiro por retiro, tudo aquilo que firo,
Como um dramaturgo, coloquei minha alma em nu, a esmo,
Neste monólogo cuja única estrela sou eu.. me retiro,
De todo o sangue que escorreu pelos palcos da vida, fora o meu sangue,
As pisadas, as vaias, as risadas, os choros, foram sobre o meu espírito,
O gozo, o prazer, o tesão...foram sobre o meu corpo,
A maestria, a ilusão, a perfeição, deram-se no meu grito,
Devolvi o brilho ao ouro, retirando-lhe o pó...com um sopro,
Eu toquei e a bailarina valsou ao meus pés...por momentos,
Inventei versos, alcancei rimas, construí frases... inventei palavras,
Desenhei em estrelas e girassóis... todos os meu tormentos,
Apanhei as letras, brinquei com elas, as fiz escravas,
Forjei caminhos para o céu e para as estrelas,
Tentei por intermédio dos signos tombar minha face,
Tomei o que eu sentia, o que você sentia, o que vocês sentiam,
Como se em um túnel escuro saltasse,
Temi para mim suas alegrias, dores, e o que mais os feriam,
Como o Filho do Pai, fiz brotar em meus olhos cada lágrima que o mundo sentia,
Nasceram em mim as chagas e feridas que na pele de tantos ardia,
Os erros e pecados que no lombo de ti corrompia,
Traduzi em palavras a tua dor que era minha,
Em cavernas escombrosas senti o cheiro demoníaco da morte,
A acompanhei em calabouços de dor e má-sorte,
Rangiam os dentes os paridos e esquecidos,
Pobres morféticos e leprosos,
Desenhei a dor dos moribundos e horrorosos,
As cavernas eternas foram descritas com precisão erudita,
Colidi-me com a vida, na vontade de um suicida,
Desejei a morte e me encontrei na dor dos que buscam a vida,
Retirei lascas de meu futuro, ao esquartejar o meu passado,
Mas até isso eu coloco de lado,
Sou uma ilusão...
Não sei a que vim, nem de onde venho,
Tenho por missão mutilar os que comigo estão,
Simplesmente que ao ser uma ilusão não me é permitido sentir,
Por isso sugo toda a sua vida,
Por isso canalizo toda a sua morte,
A pele exposta em chagas que tenho, não as tenho, as criei para sentir,
O prazer de tanto amar, não é meu...inventei para que pudesse sentir o gosto de amar,
As noites que passei ao seu lado,
Os gemidos que eu ouvi e você ouvi não eram reais... eram ilusão,
As mordidas que você dava em um travesseiro eram por sentir a ilusão de se estar sendo amada,
Eram a ilusão de seu corpo estar sendo nutrido por almas penadas,
Os urros que tu davas, eram a ilusão de por anjos estar sendo penetrada,
Os beijos que te acordavam, eram beijos de espíritos que contigo deitavam,
O seu corpo era plenamente saciado, pelo gozo de deuses que tanto a amavam,
Minha retórica é ilusão,
Minha vida é ilusão,
Minha dor é ilusão,
O meu amor é ilusão,
Dos quatro cantos do mundo sou formado por fantasias,
Minhas palavras são dotadas de energia, mas não é minha essa força, afinal sou inerte,
Meu pensamento, é um pensamento vago, como daqueles que se desprendem do corpo e a esmo “viajam”,
Meu sentimento é virgem, dotado de uma incapacidade de sentir qualquer espécie de dor...ou de amor,
Duvidam quando eu gemo...estalado a berros que rasgam a alma e penetram no espírito,
Desdenham, quando surge em mim um sentimento terno, fraterno, colossal em torno de ti,
Muitas coisas me furtaram nessa vida, desde a minha chegada até a hora de eu partir,
Eu que já arranhei tempestades, vendavais, contemplei o porvir, a aurora e seu esplendor,
Mas quero continuar vivendo com a ancora cintilante da dor, e a agonia delirante do amor.
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